Backer: Polícia Civil indicia 11 pessoas após intoxicação por dietilenoglicol

Backer: Polícia Civil indicia 11 pessoas após intoxicação por dietilenoglicol

Onze pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil de Minas Gerais após a intoxicação por dietilenoglicol em cervejas da Backer. Entre os crimes, estão lesão corporal, contaminação de produto alimentício e homicídio.

Segundo o delegado Flávio Grossi, a Polícia Civil conseguiu comprovar, física e quimicamente, a existência de um vazamento no tanque de cerveja.

 

Fazem parte do grupo de indiciados:

 

 

  • Testemunha que mentiu em seu depoimento (responderá por falso testemunho e obstrução)
  • Chefe da manutenção (responderá por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício culposa)
  • Seis pessoas do grupo gestor e responsáveis técnicos (responderão por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício dolosa)
  • Três pessoas do grupo societário (responderão por não dar publicidade a produto que causa risco e por manter em depósito e colocar à venda esse produto)

 

"Esta investigação foi multifacetada, tivemos químicos, engenheiros, peritos da maior gama possível. Atuamos de forma extremamente centrada e, para iniciar a investigação, precisávamos entender como é feita a cerveja", disse Grossi.

De acordo com o delegado, em nenhum momento, os técnicos da cervejaria atuaram com dolo. "Foi um fato acidental, sem sombra de dúvida, mas passível de punição", afirmou. Segundo ele, foram identificadas duas modalidades da culpa: negligência e imperícia.

O inquérito, que chegou a considerar 42 vítimas, foi concluído com 29 vítimas criminais, segundo a Polícia Civil. Sete morreram e 22 sobreviveram. "No decorrer das investigações, retiramos dez vítimas por fatores investigativos ou médicos. Ou laudo descartava ou deixava em dúvida. Três vítimas não desejaram fazer testes de exames", explicou.

Ele esclarece que outros 30 casos ainda serão analisados. De acordo com o delegado, se essas eventuais vítimas fossem anexadas às investigações neste momento, a solução do inquérito poderia ser adiada.

De acordo com o superintendente de Polícia Técnico-Científica, Thales Bittencourt, foram feitas cinco necropsias diretas em vítimas que perderam a vida.

"Em todas elas foram constatadas alterações macro e microscópicas compatíveis com contaminação por dietilenoglicol. E em todas também foi constatada a presença do tóxico dietilenoglicol. Cem por cento de produtividade nas necropsias", afirmou.

Conforme os delegados, os laudos de todas as perícias feitas ao longo das investigações já foram entregues à Justiça, e necessariamente o Ministério Público vai analisar as medidas que julgar cabíveis.

G1 entrou em contato com a Backer e aguarda o posicionamento da cervejaria

Caso Backer

 

As investigações sobre o caso Backer começaram no dia 8 de janeiro deste ano, com a abertura do inquérito. Ao longo de cinco meses de apurações, a Polícia Civil identificou 29 vítimas de contaminação por dietilenoglicol. Sete delas morreram.

Ao todo, o inquérito reúne mais de 4 mil páginas e ouviu mais de 70 pessoas, dentre elas, vítimas sobreviventes, suspeitos e testemunhas.

Os trabalhos foram coordenados pela 4ª Delegacia de Polícia Civil Barreiro. Esses cinco meses de investigações foram marcados pela luta das vítimas por recuperação e cobrança de direitos pelas famílias dos intoxicados pelo dietilenoglicol. Dos 22 sobreviventes, apenas um chegou a receber auxílio da cervejaria para o tratamento de saúde.

Os pacientes contaminados pela substância desenvolveram sintomas que se iniciavam com náusea, vômito e dor abdominal, que evoluíam para insuficiência renal e alterações neurológicas.

 

O que é o dietilenoglicol?

 

O dietilenoglicol (DEG) é uma substância de cor clara, viscosa, não tem cheiro e tem um gosto adocicado. A fórmula química é C4H10O3. Ela é anticongelante e de uso bastante comum na indústria.

A ingestão pode provocar intoxicação com sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a substância é um solvente orgânico altamente tóxico que causa insuficiência renal e hepática, podendo inclusive levar a morte quando ingerido.

A intoxicação por DEG pode ocorrer quando ele é usado de forma inapropriada em preparações químicas, substituindo outros produtos não tóxicos para o ser humano. Desde 1937, foram registradas dezenas de casos de intoxicação em diferentes países.

Por Cristina Moreno de Castro e Fernando Zuba, G1 Minas e TV Globo — Belo Horizonte